Enunciado: é a sequência acabada de palavras de uma língua emitida por uma ou vários falantes. O fechamento do enunciado é assegurado por um período de silêncio antes e depois da sequência de palavras, silêncios realizados pelos falantes. Um enunciado pode ser formado de uma ou de várias frases; pode-se falar de enunciado gramatical ou agramatical, semântico ou assemântico. Pode-se acrescentar a enunciado um adjetivo que qualifique o tipo de discurso (enunciado literário, polêmico, didático, etc.). Um conjunto de enunciados constitui os dados empíricos (corpus) da análise lingüística. “Maurício jogou muito bem hoje”.
Enunciação: Enunciação s eopõe a anunciado, no sentido mais corrente desta palavra, assim como fabricação se opõe a fabricado. A enunciação é ato individual de utilização (ou criação) da língua, enquanto que o enunciado é o resultado desse ato. Assim, a enunciação é constituída pelo conjunto dos fatores e dos atos que provocam a produção de um enunciado. A enunciação é a emissão de um conjunto de signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados.
Discurso: é o efeito de sentido construído no processo de interlocução (opõe-se a uma concepção de língua como mera tranmissão de informação). “O discurso não é fechado em si mesmo nem é do domínio exclusivo do locutor: aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do qual se diz, para quem se diz, em que relação a outros discursos” (Orlandi). “É o ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos. A linguagem enquanto discurso de signos serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento, mas a linguagem enquanto discurso é interação, um modo de produção social. Ela não é neutra, inocente (na medida em que está engajada numa intencionalidade) mas o lugar privilegiado de manifestação da ideologia. Como elemento de mediação necessária entre o homem e sua realidade e como forma de engajá-lo na própria realidade, a linguagem é lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, pois os processos que a constituem são histórico-sociais. Seu estudo não pode estar desvinculado de suas condições de produção.” (Brandão)
Formação Social: Caracteriza-se por um estado determinado de relações entre as classes que compõem uma comunidade em um determinado momento de sua história. Estas relações estão assentadas em práticas exigidas pelo modo de produção que domina a formação social. A essas relações correspondem posições políticas e ideológicas que mantém entre si laços de aliança, de antagonismo ou de dominação.
Formação Ideológica: É constituída por um conjunto complexo de atitudes e representações que não são nem individuais, nem universais, mas dizem respeito a mais ou menos diretamente, às posições de classes em conflito umas com as outras. Cada formação ideológica pode compreender várias formações discursivas interligadas.
Formação discursiva: conjunto de enunciados marcados pelas mesmas regularidades, pelas mesmas regras de formação. A formação discursiva se define pela sua relação com a formação ideológica, isto é, os textos que fazem parte de uma formação discursiva remetem a uma mesma formação ideológica. A formação discursiva determina “o que deve ser dito” a partir de um lugar social historicamente determinado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discursivas diferentes, acarretando, com isso, variações de sentido.
Regras de formação: são regras constitutivas de uma formação discursiva possibilitando a determinação dos elementos que a compõem. Foucault apresenta-as como um sistema de relações entre os objetos do discurso, os diferentes tipos de enunciação que permeiam o discurso, os conceitos e as diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
Sentido: para a Análise do Discurso, não existe um sentido a priori, mas um sentido que é construído, produzido no processo da interlocução, por isso deve ser referido às condições de produção (contexto histórico-social, interlocutores...) do discurso. Segundo Pêcheux, o sentido de uma palavra muda de acordo com a formação discursiva a que pertence.
Sujeito: na perspectiva da AD, a noção de sujeito deixa de ser uma noção idealista, imanente; o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente, interpelado pela ideologia. Dessa forma, o sujeito não é a origem, a fonte absoluta do sentido, porque na sua fala outras falas se dizem. Para Pêcheux, a ilusão discursiva do sujeito consiste em pensar que é ele a fonte, a origem do sentido do que diz”.
Forma-sujeito: denominação criada por Pêcheux para indicar o sujeito afetado pela ideologia.
Texto: unidade complexa de significação cuja análise implica as condições de sua produção (contexto histórico-social, situação, interlocutores). Para Orlandi, o texto como objeto teórico não é uma unidade completa; sua natureza é intervalar, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos interlocutores. Mas como objeto empírico de análise, o texto pode ser um objeto acabado com começo, meio e fim.
Dialogismo (Bakhtin): O conceito de dialogismo nasce com Bakhtin (La Poétique de Dostoïevski, 1970, Barcelona: Barral Editores), que aponta para duas diferentes concepções do princípio dialógico: a do diálogo entre interlocutores e a do diálogo entre discursos. Para Bakhtin o texto se define como:
a) Objeto significante ou de significação, isto é, o texto significa;
b) Produto da criação ideológica ou de uma enunciação, com tudo o que está aí subentendido: contexto histórico, social, cultural, etc. Em outras palavras, o texto não existe fora da sociedade, só existe nela e para ela;
c) Dialógico: já como conseqüência das duas características anteriores o texto é, para o autor, constitutivamente dialógico; define-se pelo diálogo entre os interlocutores e pelo diálogo com outros textos;
d) Único, não reproduzível: os traços mencionados fazem do texto um objeto único, não reiterável ou repetível.
Para Bakhtin, a diferença entre as ciências naturais e as humanas é que as primeiras são monológicas e as segundas dialógicas: nas ciências naturais procura-se conhecer o objeto e nas ciências humanas procura-se conhecer um sujeito, produtor de textos.
“As ciências exatas são uma forma monológica do conhecimento: o intelecto contempla uma coisa e pronuncia-se sobre ela. Há um único sujeito: aquele que pratica um ato de cognição (de contemplação) e fala (pronuncia-se). Diante dele, há a coisa muda. Qualquer objeto do conhecimento (incluindo o homem) pode ser percebido e conhecido a título de coisa. Mas o sujeito como tal não pode ser percebido e conhecido a título de coisa porque, como sujeito, não pode permanecendo sujeito, ficar mudo; consequentemente, o conhecimento que se tem dele só pode ser dialógico”.
O sujeito da cognição procura interpretar e compreender o outro sujeito em lugar apenas de conhecer um objeto.
“A compreensão é um forma de diálogo; ela está para a enunciação assim como a réplica está para a outra no diálogo. Compreender é opor à palavra do locutor uma contrapalavra”.
Para Bakhtin a vida é dialógica por natureza: é impossível pensar no homem fora das relações que o ligam ao outro (a alteridade define o ser humano; o outro é imprescindível para sua concepção). Podemos separar em Bakhtin duas noções de dialogismo:
a) Diálogo entre interlocutores: quatro aspectos de sua concepção de dialogismo entre interlocutores devem ser mencionados:
a1) a interação ente interlocutores é o princípio fundador da linguagem;
a2) o sentido do texto e a significação das palavras dependem da relação entre sujeitos, ou seja, constroem-se na produção e na interpretação dos textos;
a3) a intesubjetividade é anterior à subjetividade: a relação entre os interlocutores não apenas funda a linguagem e dá sentido ao texto, como também constrói os próprios sujeitos produtores do texto;
a4) Bakhtin aponta dois tipos de sociabilidade: a relação ente sujeitos (ente interlocutores que interagem) e as dos sujeitos com a sociedade.
b) Diálogo entre discursos: Para Bakhtin, o dialogismo é o princípio básico constitutivo da linguagem e a condição do sentido do discurso. O discurso não é individual: não é individual porque se constrói como um diálogo entre discursos, ou seja, porque mantém relação com outros discursos. O dialogismo, tal como Bakhtin o concebe, define o texto como “um tecido de muitas vozes”, ou de muitos textos ou discursos, que se entrecruzam, se completam, respondem umas às outras ou polemizam entre si no interior do texto. Neste sentido o discurso tem sempre um caráter ideológico.
b1) O dialogismo é constitutivo da linguagem – Para Bakhtin a linguagem é, por constituição dialógica e a língua não é ideologicamente neutra e sim complexa, pois, a partir do uso e dos traços do discurso que nela se imprimem, instalam-se na língua choques e contradições. Em outras palavras, para ele, no signo, confrontam-se índices de valor contraditório. Assim caracterizada, a língua é dialógica e complexa, pois nela se imprimem historicamente, e pelo uso, as relações dialógicas dos discursos. A linguagem, seja ela pensada como língua ou como discurso é, portanto, essencialmente dialógica. Ignorar sua natureza dialógica, é o mesmo, para Bakhtin, que apagar a ligação que existe entre a linguagem e a vida.
b2) Dialogismo e polifonia – Muitas vezes os termos dialogismo e polifonia foram usados como sinônimos nos escritos de Bakhtin ou por outros autores. Atualmente, alguns teóricos (Barros, 1997. In Bakhtin, dialogismo e construção do sentido) separam estes dois conceitos:
Em trabalho anterior sobre o assunto, distingui claramente dialogismo e polifonia, reservando o termo dialogismo para o princípio dialógico constitutivo da linguagem e de todo discurso e empregando a palavra polifonia para carcaterizar um certo tipo de texto, aquele em que o dialogismo se deixa ver, aquele em que são percebidas muitas vozes, por oposição aos textos monofônicos que escondem os diálogos que os constituem. Trocando em miúdos, pode-se dizer que o diálogo é condição de linguagem e do discurso, mas há textos polifônicos e monofônicos, conforme variem as estratégias discursivas empregadas. Nos textos polifônicos, os diálogos entre discursos mostram-se, deixam-se ver ou entrever; nos textos monofônicos eles se ocultam sob a aparência de um discurso único, de uma única voz. Monofonia e polifonia são, portanto, efeitos de sentido, decorrentes de procedimentos discursivos, de discursos por definição e constituição dialógicos”.
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