O tema que, a meu ver, é prioritário neste texto é o paradoxo da linguagem. Ao mesmo tempo em que aprisiona o Homem numa estrutura linguística, nela o Homem pode também encontrar sua redenção (literatura ou escritura, em oposição à escrita convencional). Quanto à prisão da linguagem, vemos repercutir em Barthes o pensamento pós-estruturalista que marcou os anos 70 do século XX na França. Muitos filósofos, dentre os quais Michel Foucault, Gilles Deleuze, mas principalmente Jacques Derrida, fazem ecoar a dominação da totalidade do pensamento e da realidade humana pelo código lingüístico, pelo imperialismo dos signos. Em “Mil platôs”, por exemplo, Deleuze & Guattari criticam a semiologia tradicional pelo fato de que esta não apenas reduz os fatos não-linguísticos aos lingüísticos (fato já constatado pelo próprio Barthes no “Sistema da Moda”), como também impõe o imperialismo do significado: tudo o que existe tem de ter uma significância. Derrida, igualmente a Barthes, diz que o signo escrito (palavra) sempre manifesta (ou é o objeto) do poder que elimina seu duplo e institui a língua como sistema lógico-matemático. É nítida aqui a comparação com o procedimento científico tradicional, não apenas no que se refere à exclusão dos fatos não abrangidos pela metodologia, mas sobretudo pela escrita objetiva que a caracteriza que elimina o sensível (não-linguístico ou extralingüístico). Nestes autores, a redenção humana à prisão da linguagem advém justamente pela subversão da linguagem por ela mesma, trabalho que se expressa manifestadamente no fazer artístico que faz transparecer aquilo que a cobertura dos signos não alcança. Para Barthes este trabalho é literatura ou da escritura (escrita artística) cuja função consiste (curiosamente semelhante à ciência) na representação (apresentação) do real. Para Barthes, a escritura recoloca a dimensão subjetiva do autor (dimensão esta preterida pela ciência) na descrição dos fatos observados, reposicionando o sujeito moderno (cartesiano), enquanto entidade fixa que observa o objeto em variação, numa posição instável, à espera do desenrolar dos fatos. Esta posição eliminaria, consequentemente, a própria idéia de método como um apriori da observação científica, instituindo o que Ciro Marcondes Filho chama de “metáporo” (em oposição ao método), onde o observador se coloca como próprio observado e descreve o fenômeno sensível (extra-linguístico) que se desenrola a sua frente (desde que este esteja com todos os “poros” da pele aberto, à escuta). Para ele, o sensível ou o além da língua é o mais importante na Comunicação, mas foi silenciado pela linguagem totalizadora ou pelo procedimento científico convencional. A meu ver, o texto de Barthes traz como importante contribuição ao campo o fato de repensarmos o modo como narramos ou descrevemos o que observamos. A opção pela escritura confere abertura à linguagem e a possibilidade de expressão de algo (o não-linguístico, o extralinguístico) que a objetividade narrativa não permite.
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